sábado, 24 de abril de 2010


claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodca, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive,  nothing   special,   baby,  não   estou   louca   nem  bêbada,   estou   é   lúcida   pra   caralho   e   sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho  frio,   leite quente com mel  de eucalipto,  gin-seng e  lexotan,  depois  deito,  depois  durmo, depois acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura,   absolutamente   limpa,  depois   tomo outro porre,   cheiro   cinco gramas,  bato  o  carro numa esquina   ou   ligo   para  o   cvv   às   quatro   da  madrugada   e   alugo   a   cabeça  dum  panaca   qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe,   não   vou   tomar   nenhuma   medida   drástica,   a   não   ser   continuar,   tem   coisa   mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? 
Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia. Ela para e pede:
preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era...

 Caio F. Abreu

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